sábado, 19 de fevereiro de 2011

Mahatma Gandhi

"Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho."
  


O renascimento do Girassol


Sr. Girassol casado a pouco mais de 5 anos fazia a alegria de sua rua nos finais de ano, era como ele dizia: o pirotécnico da festa. Seu décimo terceiro era reservado para essa causa junto a distribuição dos presentes das crianças e, neste fim de ano em especial a festa deveria ser perfeita - ele aguardava e comemorava a chegada de seu primeiro filho.

No entanto sua preparação foi interrompida, durante a festa de fim de ano da empresa um acidente ocorreu; por uma brincadeira o Sr. Girassol escorrega e bate a cabeça na piscina perdendo a consciência. As pessoas muito assustadas chamam ajuda e dão inicio a uma nova fase na vida do Sr. Girassol.
Na correria e polidez do hospital a família só recebe a notícia de que o trauma raquimedular é grave, delicado e na maioria das vezes irreversível. Muitas rezas, amor e união trazem novamente a esperança.  Sr. Girassol é operado e levado a UTI, local que se tornou seu abrigo por longos 6 meses. Enquanto o organismo do Sr. Girassol se recuperava, a vida tomava seu rumo, seu filho vinha ao mundo de uma forma aguardada e angustiada, o que de alguma maneira fez com que o Sr. Girassol abrisse os olhos e chorasse por tudo aquilo que tinha perdido.
Uma nova fase se faz presente, a angústia da perda de movimentos e a alegria do ganho de uma nova vida.
Neste momento conheço Sr. Girassol, um homem jovem de 42 anos, com muita dor, amargura e tristeza nos olhos: - Não fique assim Sr. Girassol o pior já passou, agora o importante é não desistir, fazer a fisioterapia, curtir a família... - Doutora como? E o meu filho? Eu nem posso segurá-lo, quem vai criá-lo? Eu nem o vi nascer, quem sou eu? E as minhas pernas, quando elas vão voltar a me obedecer?
Claro que eu não tinha resposta para nenhuma daquelas perguntas, e vê-lo chorar me fez ainda menor diante da grandiosidade e gravidade dos acontecimentos. Uma esposa antes muito bem amparada que agora tem 2 nenês para cuidar e o pior sem saber como e sem meios financeiros para muita ajuda e, do outro lado um homem que há pouco tempo tinha força, emprego, alegria e movimentos e que agora  se pergunta porque não morreu já que era para se tornar um peso. Fiz o que qualquer outro médico faria: medicação para dor, fisioterapia, psicólogo, apoio para a esposa e o recém-nascido.
Ao encontro a estória a minha vida estava em um momento tumultuado de trabalho frenético, de segunda a sexta em horário comercial e plantão aos sábados à noite e domingo dia, sem parar, sem pensar ... Neste dia voltei para casa com a certeza de que a vida é realmente muito curta (E os meus pais? Meu namorado? Minha família? Minha vida?) e desisti de todos os plantões.
A caminhada do Sr. Girassol estava apenas começando, logo a fisioterapia se iniciou com melhora importante dos membros superiores e tronco, dieta para não exceder no peso, psicologia para lidar com os obstáculos (mesmo que às vezes empurrado), aprender a tomar “banho”, improvisar e surpreender-se  brincando com o filho, reaprender a ser companheiro e não paciente da esposa, conquistar a locomoção com a cadeira de rodas e deixar o preconceito para trás...
As barreiras  realmente não eram fáceis, dependia dos vizinhos para dirigir seu próprio carro e corpo, as milhares de consultas nos hospitais e em casa, a burocracia de perícias e mais perícias para conseguir o auxilio doença, a guerra com o plano de saúde para adquirir o home care, as dívidas que só aumentavam, os olhares penosos e preconceituosos das pessoas, a falta de brilho no olhar...
Um ano se passou e o ano novo chegou novamente para tristeza do Sr. Girassol que neste ano está lúcido e não poderá organizar o que sempre fez. A família não se intimidou; organizou uma ceia linda, com carinho e muito amor.  
A madrugada já ia caindo quando o Sr. Girassol criou coragem e se deixou colocar na garagem para ver a rua, momento em que a maioria dos vizinhos o estava esperando para brindar e agradecer por todos os anos em que ele tinha feito a alegria de todos, muito educado...  agradeceu, conversou e brindou, mas rapidamente entrou resmungando sobre a própria sorte e sobre as pessoas e em meio a novas perspectivas logo adormeceu. No dia seguinte após o almoço uma multidão o chamava no portão, era uma romaria que chegara de Aparecida e parou ali para desejar-lhe um bom ano, melhoras e uma prece de fé e carinho, neste instante Sr. Girassol não teve dúvidas, dor ou medo se pôs a rezar e a chorar...
Hoje o Sr. Girassol voltou a se alegrar e sorrir. Valoriza a vida e a família como nunca. Tornou-se companheiro da esposa, amigo dos amigos, aprendeu a caminhar sobre 2 rodas e se diverte e aprende junto com seu filho, lado a lado a alegria e força de um, contagia e ensina o outro.
E eu reaprendi a ver ou entender a vida que está aí para ser degustada, provada, sentida, enfim vivida, sem rodeios ou demora, aceitando as adversidades, tentando ser feliz!