domingo, 7 de agosto de 2011

O Cravo brigou com a Rosa? O Cravo continua a amar a Rosa? O Cravo e a Rosa vivem, compartilham, amam...

Dona Rosa e Sr. Cravo se apaixonaram muito cedo, eram adolescentes de famílias humildes e muito tradicionais, e logo correram os preparativos e o casório.
Casaram-se e tiveram uma vida feliz, Sr. Cravo trabalhava arduamente dia após dia, e D. Rosa cuidava da casa, logo engravidaram e nasceu o primogênito e dois anos após nascia o segundo filho.
Os meninos eram a vida da casa, da família, de seus pais...
O tempo passou, as crianças cresceram, e o casal foi mostrando os primeiros sintomas da velhice. Sr. Cravo diabético de longa data, iniciou sintomas claros de demência que aterrorizava a família: Como um homem trabalhador, tão inteligente pode ficar assim? A indignação foi tanta, que a aceitação ficou pequena. No entanto a cada dia os sinais ficavam mais claros e o diagnóstico evidente, Doença de Alzheimer.
Apesar dos esforços, a doença degenerativa e progressiva não se abalou e aos poucos foi tomando o cérebro do Sr. Cravo, antes tão ávido por conhecimento.
Paralelamente D. Rosa foi apresentando tremores, antes diagnosticado como essencial, mas que aos poucos tornaram-se frequentes e o diagnóstico foi preciso, Doença de Parkinson.
- Meu Deus o que será de nós? Nossos pais estão envelhecendo, estão doentes, estão indo embora... O que fazer? Como cuidar? Como continuar a amar? Eles mal nos reconhecem... Quem já ouviu falar de um casal um com Alzheimer e outro com Parkinson?
Neste contexto conheci essa família, D. Rosa e Sr. Cravo moram sozinhos, na casa que sempre foi deles. E os filhos, por perto.
D. Rosa é uma dessas avózinhas amáveis, que te cativam pelo olhar. Serena e tranquila sofre apenas com a “ausência” do marido. Sr. Cravo traz no rosto marcas de uma vida difícil, áspero e amargo em um primeiro contato, que aos poucos se transforma em um homem carinhoso, capaz de contar agradáveis estórias e vitórias, e no entanto não se lembrar do próprio banho.
Eu, no meu humilde olhar não entendia como eles podiam viver daquela maneira, mas viviam, e de acordo com as suas limitações, bem. Na primeira visita a cuidadora  causava ciúmes e estranheza  a D. Rosa, isso mesmo ciúmes, D. Rosa tinha ciúmes da cuidadora com o marido, e isso foi criando circunstâncias de tremendo descontrole físico, psíquico e metabólico para ambos. Mas logo a cuidadora foi substituída por uma de mais agrado de D. Rosa.
A nova cuidadora, uma flor especial, conseguiu trazer harmonia e tranquilidade, apesar do Sr. Cravo continuar brigando e achando que é D. Rosa quem deve cuidar dele, ele a aceita melhor.
Às vezes eles caem, se machucam, aumentam a pressão, aumentam a diabetes, choram, regridem, progridem, amam, sentem raiva, mas vivem... e são amados, sem restrições, sem porquês, sem pena... simplesmente vivem e são amados...