domingo, 30 de janeiro de 2011

A beleza das flores (parte 2 - a cuidadora)

Dona Tulipa é uma peça fundamental nesta estória, tanto que quis dedicar esse espaço a ela e também para que vocês conheçam essa flor, que parece já ter nascido pronta, que merece a cada dia maior admiração.
Dona Tulipa é uma mulher forte, de aproximadamente 45 anos que nunca teve o privilégio de poder desanimar na vida, casou-se muito moça e teve seus 3 filhos de forma alegre, apesar das suas dificuldades econômicas, sempre trabalhou fora para ajudar nas despesas em casa.
Conheci D. Tulipa assim que fui visitar D. Rosa pela primeira vez, ela muito calmamente me explicou que estava ali há alguns anos e que desde então eram grandes amigas e que poderia me ajudar no que eu precisasse. E assim aconteceu, conforme eu ia fazendo as perguntas elas conversavam em minha frente como se estivessem sentadas em um café só para distrair o tempo (recapitulando: D. Rosa era portadora de ELA e a única coisa que ela conseguia movimentar em seu corpo eram os seus olhos e alguns grunhidos ocasionalmente), me lembro da feição de D. Tulipa quando deve ter visto a minha cara embasbacada diante de tal situação, e ela apenas me acalentou: Logo a senhora também aprende... Pensei, será?
Diante da situação alarmante e triste de D. Rosa quis saber detalhadamente tudo, como era a família, como ela interagia com essa família e pude perceber que elas mantinham olhares misteriosos sobre alguns assuntos, de forma diferente e alegre elas até se divertiam.
Na perspectiva dessa personagem mágica os acontecimentos eram apenas parte da vida, e que ela estava ali somente para ajudar no que fosse necessário e como dádiva ainda tinha ganhado uma amiga, uma confidente. Assim, sem sofrimento e sem pesar.
O meu interesse sobre o caso de D. Rosa e o medo de D. Tulipa adoecer diante da situação, nos aproximou... Dona Tulipa era o anjo de D. Rosa e eu queria ser o anjo de D. Tulipa, solicitei exames, insisti a ela em um tratamento psicológico e ela tranquilamente apenas me respondia: não é necessário, eu nasci para essas circunstâncias.
Com a chegada dos exames, e alguns resultados desfavoráveis, fui até a casa de D. Rosa, mas para visitar desta vez D. Tulipa, lá chegando um susto, aquele ser calmo e alegre estava em desespero, aos prantos...  Aos poucos “conversando” com D. Rosa e D. Tulipa fiquei sabendo que sua filha “especial” tinha desaparecido e que a policia a tinha achado e a levado para um hospital, pois é acreditem, aquelas lágrimas presenciadas eram de agradecimento e não de desespero, ela parecia jamais se desesperar... E o mais surpreendente para mim, eu e D. Rosa tínhamos trocado palavras sem intérprete...
Dona Tulipa em horário comercial era cuidadora de D. Rosa e em casa era cuidadora de sua filha, a qual apresenta uma deficiência mental sem cura para a medicina até o momento.
Atordoada com a notícia apenas me indagava: como ela era tão forte, como ela conseguia com tanta serenidade e alegria, sem nunca esbravejar ou culpar o mundo pelas suas mazelas, assim como nós seres humanos atacados fazemos?
Aos poucos fui tentando fazer com que essa rocha, cuidasse melhor de si assim como cuidava de todos ao seu redor, e ela aos poucos foi me ensinando como a vida pode ser caprichosamente remendada em pequenos retalhos ora de alegria, ora de tristeza, ora de ser cuidadora e ora de se permitir ser cuidada...  Formando uma colcha, uma corrente de solidariedade, determinação, aprendizado, amor e alegria.
Dona Tulipa hoje é cuidadora apenas de sua filha, mas está à procura de um novo emprego que a deixe mostrar como se pode fazer a diferença quando se faz com amor e carinho.
Essa lição não é fácil, mas quando se presencia nos toca de forma transformadora.

Um comentário:

  1. As vezes, pensamos que não fizemos ou não fazemos diferença em certas situações, mas no final um sorriso diz tudo.
    Juliana (prima e guerreira da mesma causa)

    ResponderExcluir